tu sabe que atiça

com o verbo

com o verso

com a boca

sai faísca

sem dilemas

sem vergonha

descarada

me enfeitiça

o frio balançando a alma
parece fazer cócegas dentro

dança feito fada
feito feto ao nada

que levo pra casa

dentro,

mórbido segundo
entre uma letra e a carta
o mundo fora do falso 

fundo que abriga a caixa

flor aquecida em pétalas
rima em desconstrução



julho de 2017

você não deveria 

dizer que vem

quando não pode

ou não quer vir

Este poema não é para você

que tira minha roupa

com as mãos macias

dentro da minha calcinha

Molhada

E nem para você 

que deixou meu braço roxo

com a última chupada

Este poema

não é para você,

amada

MARÇO

água unguenta
que dissolve
envolve
alimenta
água que atormenta
água de sódio
água doce
água que acalenta
leva
e despenca
não dispensa a queda
quando se estende
tensa
não tensa
não pensa
água densa...

ESTE POEMA NÃO É PARA VOCÊ

mama

espuma em copos
colares
desordem na casa
olheiras
olhares
divisão de tarefas
ensinar a ler
aprender
a se desentender
respeitar o que é contrário
perceber
o tempo
não o horário
ver crescer
conhecer as manias
chorar
alimentar
não cair na histeria
das rotinas
da quentura
dos dias
te ver pintar
a casa
sem pressa
descalça
ouvindo
e fazendo
poesia

despedida

deixou os vidros no chão da sala
deixou os brincos no meu quarto
o cheiro em minha cama
esqueceu alguns papéis
e não falou nada
que me machucasse
tomou cuidado
tomou cachaça
distraída
poética
sacana
bonita
na minha cama
nua
na minha cama
meu amor,
falo de desejo
não de drama
falo da tua pele
que a minha ama
ouço teu silêncio
devagarinho
jogando gasolina
no meu peito
em chamas...

ser cascata
ordem injusta nesse caso
tudo que eu tinha construído
se desfez em algum dia dessa semana
e só escrevo pois sou covarde o suficiente pra falar enquanto te olho
fiz meditação
fui pra muito longe
me protegi
bebi
passei mal
passei bem
me cuidei
pensei ser passado

ser cascata
em tempo de tempestade
suportar a água caindo nas costas
acariciando o desejo
de ser fluída
e dissolvida
em teus beijos
que me molham

desamarrar
carta de domingo
teu olho de girassol
ainda com todas as pétalas
me encara pela décima quinta vez em um minuto líquido

fumamos todos os cigarros compulsivamente até às 3:00 da madrugada, que na verdade já é quase manhã, acredito que ela não era outra
se não ela mesma,
sem medo e sem modos.
peço desculpas
retiro as dez culpas
ouço a música e já minto
porque
minha filha, a míngua
só se for de uma fase da lua.
costumo não desperdiçar os eu te amo, a comida, a fumaça e a tinta que dizem ser uma ameaça.
estou no século XXI e faço cartas
mas não embarca na minha
não suje minha cozinha
não me peça pra ser automática
ou monocromática, 

bjs, 

25/10/2018